Psicóloga de programa

1º Aventura

Era noite na cidade maravilhosa, a escuridão escondia a movimentação noturna do centro urbano; e é nessa parte do dia que muitas coisas acontecem.
Nossa história começa num quarto de motel, o estabelecimento se chamava “Ninho do Amor”, ficava localizado na Lapa. Era um prédio antigo, um cortiço no passado distante, tinha  pouca luminosidade e  poucos moveis. Mas ali estava Andressa. Andressa e seu cliente. Estavam deitados. O serviço já estava completo, portanto, os dois descansavam antes de retornarem as suas rotinas. O cliente era o seu Jerônimo, dono de padaria, era casado e tinha dois filhos, uma menina de sete anos e um menino de 18. Sua mulher um pouco mais nova que ele, se negava a fazer sexo, pois para ela não havia mais sentido. Ele era conhecido há bastante tempo por Andressa eram vizinhos na infância dela, quando moravam na Tijuca. No inicio do ano que Jerônimo iria se casar, ele se mudou com sua noiva para um apartamento na freguesia, em cima da padaria do pai de sua esposa; mais tarde o Manolo veio a falecer e ele herdou o “ganho pão”.
Os dois gostavam de conversar depois da transa, numa dessas conversas ele confessou  que se arrependia de trair sua mulher; “ Eu gosto dela. Eu gosto muito dela, o problema e só o sexo. Entendeu?!”: dizia Jerônimo.
Andressa era jovem, tinha 16 anos, muito atraente, pele morena e cabelos preto breu, de corpo esbelto e cheio de curvas perfeitas, facilitavam o seu trabalho. Ela saiu de casa cedo, brigava muito com os pais; e não gosta de comentar essa fase de sua vida, por isso devemos respeitá-la.
Igual a Jerônimo, Andressa tinha visto um monte. Homens casados que saiam na calada da noite em buscar de prazer, deixavam suas senhoras em casa e fazia a festa com qualquer uma na rua. Sempre se queixando que suas mulheres não os satisfaziam, porém depois se lamentavam pela traição. “Jerônimo, pelo menos você a ama!”: respondeu Andressa.
Fisicamente Jerônimo era robusto, muito corpulento; tinha bigode de português. Chorava igual a um bebê, “Queria ser diferente. Deixar de ser cafajeste e ter somente uma”. Pensava muito nas crianças, a menininha sentia muita falta dele, pois Jerônimo largava o serviço e ia para o botequim da esquina, enchia a cara de bebida, esperando a noite chegar. Chegando ela, ele logo se assanhava com um rabo de saia. Já o menino era sério e não gostava de conversar, Jerônimo, então, assumia a culpa pelo jeito do filho, se sentia um pai ausente.
Andressa escutava o desabafo com atenção, e o consolava com uma massagem, algumas palavras confortantes. Os dois se vestiam, ela pegou o pagamento e recebeu o último beijo daquela noite. Abrindo a porta, ele falou: “Você devia sair dessa vida. Quer uma sugestão de profissão?! Seja psicóloga.”, e a porta bateu. 

2º aventura:

    
A Avenida Rio Branco, na madrugada, não é lugar para criança, mas Andressa estava lá. Junto as meninas ela se exibia, de vez em quando um carro buzinava, fazendo animar ainda mais a performance.  Ela ia acender um Free, encostou um Santana e o motorista acenou. Encostando os cotovelos no capô ela perguntou qual seria o lugar. Depois se pendurando na janela disse seu preço, mostrando seus seios fartos. O motorista concordou, e ela entrou no carro.
O cliente dessa noite era um senhor de idade, calvo, com cabelos grisalhos e mãos murchas. “Espero que não seja tão murcho quanto à mão!”: murmurou Andressa. Aparentava uns 60 anos. Tremia um pouco ao dirigir, e mantinha os 60 km/h no velocímetro. Dirigiam-se ao “Ninho do Amor”.
Andressa tinha experiência com homens bem mais velhos. “São pessoas que sabem o que fazer, na maioria das vezes”.  Porém nunca chegou a uma faixa etária tão alta.
Chegaram, subiram as escadas e foram para suíte no terceiro andar. Entraram no quarto e ela encontrou a cama. Seu olhar AK-43 fuzilou o idoso que tentava desabotoar a camisa. Suas mãos deslizavam por todo corpo, se sentindo acender. Finalmente tirou a camisa, andou até a garota. Ela o agarrou pelas pernas... “Peraí. Minha queridinha, peraí!”: falou a voz cansada do idoso. Andressa incrédula perguntou o que tinha acontecido, e veio a resposta: “Esqueci os comprimidos!”. Ela sentiu um balde de água fria ser atirado nela. ”O comprimido fará efeito daqui duas horas, aguarde um pouco, minha querida”.
Sentado na cadeira no outro lado do quarto, ele perguntou há Andressa quantos anos ela tinha. Vendo que não teria resposta, resolveu dizer a sua idade. Disse também que era viúvo; sua esposa “bateu as botas” há um ano, teve uma parada cardíaca. “Coisa de velho”: completou. Era aposentado, ganhava dois salários mínimos, e perguntou se ela teria aposentadoria. Silêncio. Tinha um filho casado, empregado numa multinacional. “Você tem namorado?”. Andressa, enfim, falou: “Você terá que me pagar o triplo do combinado”. Ele fez positivo com a cabeça, e continuou a tagarelar.
O monólogo se estendeu por duas horas, de repente um volume pode ser visto no samba canção de Chico, assim era o nome do idoso; meio sonolenta Andressa o arremessou na cama e subiu em cima dele. Parecendo ter mal de Parkinson, apertou a bunda da garota. Se reacendendo, Andressa começava a sentir também a palpitação do velho Chico. Um pouco mais animada ela começou a esfregar os seios no rosto dele, e ele correspondia com um sorriso banguela, já que preferiu tirar sua dentadura! Ela esfregava de novo, de novo. Ele estava sorrindo. Mais uma vez, mais uma. E ele estava sorrindo. E novamente. E ele parou de sorrir. Assustada Andressa o sacudiu, e ele permanecia imóvel. O chacoalhou fortemente, mas o velho Chico estava morto.
Pegando sua roupa, seu sapato, o dinheiro no bolso da calça do idoso e o cordão de ouro, que ele tinha no pescoço, ela correu pelo corredor, nua e desesperada.     

3º aventura:

Sob o luar Andressa, Valéria e Gigi andavam pelo calçadão; esperando um convite de um cliente. ”Copacabana é a fonte da prostituição, você vê de tudo...”: comentou Valéria, enquanto tirava sua sandália. Caminharam na areia da praia, com os calçados nas mãos, retornando para a calçada, foram abordadas por quatro drags. “Hei... psiu! Acho que nunca vi vocês aqui!”: disse uma das drags, “Aqui é nossa área. Saem daqui”: exclamou a outra. Pegando um canivete gritou: ”Corram barangas!” e as meninas saíram em disparada. ”O pior são essas bichas”: irritada reclamou Gigi.
Na direção delas vinham três jovens, “Quanto é?”: perguntou o mais descolado dos jovens. Gigi respondeu levantando a saia, deixando as coxas amostra. ”Esse é o pacote do trio?”: indagou o loirinho a esquerda.
Terminada a negociação as meninas acompanhadas foram para um motel ali perto mesmo. Cada casal entrou num quarto; Valéria e o loirinho, Gigi e o descolado, e Andressa ficou com o terceiro rapaz, o tímido. Ela estava de joelhos sobre a cama, sem o vestido. Passava a mão entre as pernas ainda de calcinha, percebeu que o garoto não estava em sintonia, ”Você tem algum problema?”. Uma voz baixinha soou: ”Não”;  Andressa desinteressada reiniciará o Streep. Interrompendo fez novamente uma pergunta: ”Você realmente não tem nenhum problema?”. Só os gemidos do outro lado da parede podem ser ouvidos. “É minha primeira vez!”, Marcelinho contou após ter se identificado.
Sentando de pernas cruzadas, Andressa jurou não contar o acontecido ao irmão. “Ele não admitiria”: explicou Marcelo.
Ele era um adolescente de 15 anos, era o caçula de três irmãos, e virgem. No grupo, apenas ele não tinha transado. Por isso, era vítima de brincadeiras maldosas. De família de classe média alta, via o primogênito gastar uma fortuna com vadias; “Desculpa! Não queria te ofender”, adorava pegar o carro do papai e encher de “mulheres da vida”. “Com o passar do tempo ele começou a cobrar isso de mim...”.
Andressa compreendeu. A primeira vez que transou, tinha quatorze anos. Foi à força com o seu tio. Sabia que dessa maneira é a pior. Ela tentou ensinar que o sexo é uma manifestação de amor. E ele jamais deveria fazê-lo pressionado por alguém. “Não sabia que prostituta sabe o que é amor!”.
Andressa começou a gemer sem ao menos ser tocada, “Seu irmão cairá nessa.”; reproduzia os barulhos de forma mais convincente possível. Repentinamente a lembrança dela na cama com o seu tio Beto, a fez chorar mansinho.
Marcelo agradeceu fervorosamente o programa; aprendeu valiosas coisas que só se aprende com uma prostituta num quarto de motel cafona. Abraçaram-se. “Aqui está o dinheiro!”, saindo do quarto Marcelo encontrou seu irmão saindo junto com Gigi; e o loirinho.
Gigi chegando perto de Valéria; limpou a boca; “Que homem mais brocha”. E as três gargalharam.

4° aventura:

Um, dois, sete copos de cerveja, são a quantidade exata para a perda de noção. Mais três copos de vinho. Acrescenta dois copos de vodca. Com uma pitada de ódio, e você tem um mostro.
Jerônimo tinha brigado com a mulher, enraivecido foi para um bar, enlouquecido achou Andressa na Fundição, estava beijando um cara. Ele cambaleou até eles, “Você é minha nessa noite”, e saiu com ela nos braços.
Foram parar no “Ninho do Amor”; ela foi jogada na cama, ele tirou a roupa, ela estava com medo e ele com raiva. Brutalmente põe sua mão perto às dela, e lambe seus peitos; percebendo o estado, Andressa recusou permanecer com aquilo. Esquivava-se dos golpes. Rasgada a sua lingerie, veio à primeira pontada de dor. Grito. Prazer. Terror.
Encolhida na beirada da cama, Andressa choramingava. “Você serve para isso, sua puta!”: rugiu ele. ”Meu pai batia na minha mãe, e falava palavras horrendas para ela; eu ficava olhando sem entender porque minha mãe não reagia. Agora me sinto como minha mãe, e descobri que nessas horas não há reação.”. No cômodo a fumaça de cigarro já incomodava. Andressa presa em seus traumas era obrigada a escutar; quando veio o primeiro tapa; “São todas iguais, um bando de cachorras”, o segundo veio  mais forte e acertou seu rosto. Ordenou Jerônimo: “Cala boca. Pare de chorar!”, as palavras vieram com um chute.
Seu nariz, seus lábios e entre as pernas sangravam. Assim se sentia um animal maltratado, carente de compaixão; Andressa agora sozinha tomou uma decisão.
Na Delegacia da Mulher, no Leblon, Andressa denunciava os maus tratos; com seu olho roxo, boca cortada e toda dolorida; lutava por ser o sexo frágil.
  
5º aventura:

Dentro do carro; lugar mais barato para uma transa; ali estava ela. Foi assim que Andressa conheceu Ricardo; num programa no Pajero do rapaz.
Ricardo completou 23 anos no mês passado, e está comemorando cinco anos de casado. Apresentava boa aparência, cultivada pelas três horas diárias de musculação, além das trilhas ecológicas que fazia. Era gerente de uma famosa loja de roupas femininas. Cursava faculdade de Gestão empresarial. Seu maior sonho era ser pai. Sua vida de rebelde foi esquecida ao se casar com Fabíola. O grande tormento, no convívio a dois, chamava-se ciúmes. Fabíola morria de amores por ele, e odiava quando uma mulher se aproximava do marido. Ricardo a considerava doente; “Numa festa, Fabíola pegou uma faca da mesa e atacou uma de minhas secretárias, só porque ela me abraçou”. Cansado da insanidade de sua esposa, decidiu buscar outras mulheres. Possuía várias amantes até uma prima da Fabíola, “Uma loiraça com o bumbum arrebitado!”.
O casal suava dentro do automóvel, que balançava no balanço dos dois. Estavam ofegantes, com sede de prazer. Andressa se doava muito feliz.
O orgasmo veio naturalmente.
Desceu na Barra, deixando o peixe escapar de sua rede. Deu passos desnorteados e sentou no meio fio, em frente ao seu apê; olhou a lua e suspirou como uma colegial apaixonada; “Eu preciso daquele homem”. Quebrando a promessa que se fez, ela acabou se apaixonando no trabalho. Pondo-se em pé, dirigiu o seu caminho para dentro da portaria. Tomando banho ainda conseguia sentir o perfume do seu amado.
Anoiteceu e Andressa já estava na ativa. “Tchau Mário!”: despediu-se ela; pisava os degraus de uma escada quando seu telefone tocou: ”Alô! Estou com saudades minha nega, espere-me no lugar de sempre.”, sorriu ao reconhecer a voz de Ricardo. Atendendo ao pedido pegou um ônibus e o esperou meia hora em Ipanema. “Demorou, eu pensei que não vinha mais!”: disse Andressa, passando a perna sobre as dele; ficou de frente para ele, “Faça o quiser comigo”, e carinhosamente Ricardo enfiou a mão nas partes íntimas dela.
Se contorcendo, eles tingiram o banco de carona.
Chegando perto do “momento do adeus” veio o convite: ”Quer me acompanhar num jantar?”. Os olhos de Andressa brilharam: “Pode ser!”.
Brinco, cordão, batom, sombra. Vestido preto ou vestido azul, sapato preto ou prata. Indecisa esqueceu-se do tempo, e se atrasou. Pronto. ”Não.”. Faltava o perfume. “Bibi” despertou Andressa da realidade e acordou para o sonho.
“Obrigada pelo jantar, foi maravilhoso”; o beijo final. Deitada na sua cama agradeceu ao destino; “Sou a mulher mais feliz dessa vida”.
O sol raiou; e a campainha tocou, “Oi Valéria, entra!”. A amiga veio saber o motivo pelo qual não tinha ido trabalhar na noite passada; “Estavam loucos por você!”. Estampada a felicidade em seu semblante, Andressa contou tudo que ocorreu, não poupando os detalhes. Disse à roupa que usou e como ele se vestiu; descreveu o local e a comida, ela reparou noutras mesas e falou está amando. A campainha toca; “Oi Ricardo, o que você ta fazendo aqui?”. Valéria mentiu deixando os dois a sós.
Ricardo estava desesperado, sua mulher tinha descoberto que era traída; “Ela quer me matar!”. Não sabia o que fazer. “Sei lá.”: aconselhou Andressa. O sentimento de decepção a dominou, o único amor de sua existência teria que abandoná-la. “Muito burra, acreditou que ele a deixaria para ficar junto a ti!”. Naquela manhã tudo ficou intenso, a relação, o abraço, o beijo e a despedida.