quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quimera do amor

Pedalávamos, eu e ela, em sincronia com o mundo. Nossas bicicletas, azul e vermelha, cambaleavam, num ziguezague... Não era manhã, não era tarde e nem noite. Era lindo! Queria que congelasse! Ficássemos ali para sempre!
Mas radiante era seu sorriso, sorriso de menina. Olhar de mulher. A leve brisa lambia seus cabelos castanhos, tão sedosos. Eu não queria parar de olhá-la. Que deusa! Ao som dos pássaros, apresentávamos o nosso show. Teatro mudo! Apenas nossos olhos conversavam incessantemente, frases amor, juras de paixão.    
Os pássaros cantavam Djavan, as folhas das árvores dançavam o mais elegante balé, e minha mão procurava a dela, e a dela a minha. Encontraram-se enfim. No contato aquela “vampira”  sugou todo minha energia, estava faminta! Queria mais! Sempre mais! Eu retraio e ela também. Não entendia como fui parar ali, só interessava como iria terminar.
A praça não bastava mais como cenário, queríamos mais que o universo ao nosso dispor, a cama dela! Jogamos as bicicletas de qualquer maneira, e corremos para fugir da tristeza e da dor de ficar sozinho. Fomos ao encontro do amor, “tragam-me o horizonte”! Corríamos no campo, a grama salpicava os nossos pés descalços, até que nós cansados nos jogamos sobre a terra úmida. O cheiro de seu perfume mesclava com o das flores, o aroma era sedutor! Ali pus minha mão em sua face branca e macia, seus lábios convidavam os meus, e sem hesitar os meus beijou os dela. Carinhosamente tirei sua blusa, pousei minhas mãos nas coxas dela, e só percebi quando seu sutiã estava jogado ao nosso lado, ela me empurrou, sob ela alisei todo o seu corpo... Finalmente nos abraçamos, o lençol circundava-nos. Quando olhei estávamos nus! Vi aquele corpo esculpido no mais belo mármore, perfeitamente detalhado, obra do mais caprichoso escultor! Seus seios tão belos me chamavam atenção!
Toda a natureza estava em comunhão, até os animais pararam para observar, e para a gente tudo estava esquecido. Não tinha guerra em Gaza, não tinha fome na Etiópia, não tinha desigualdade no Brasil, não tinha lágrimas nos olhos sofridos, apenas havia o nosso amor!
Somente a chuva invejosa tentou dissolver a nossa excitação, cada gota em nossa pele, que agora era uma só, atingia tentando nos impedir. Foi em vã a tentativa “Mas agora quero ir até o final”, eu sussurrei. Ela lavou nosso pecado! Eu de olhos fechados fui ao céu, lá bebi o vinho dos anjos, ele escorreu até entre minhas pernas, e uma anja desenhou com sua boca o caminho de volta! Agora eram várias, uma de leve mordeu minha orelha enquanto outra de joelhos... Despenquei até o inferno, nele encontrei divertimento. Ouvi sussurro, gemido, grito! Libertei-me e voltei à realidade. Eu estava ofegante e sem ela.
Olhei desesperado para um lado e outro, a chuva agora intensa não deixava enxergar. Mas sabia que ela não estava mais ali, então me jogando ao chão desatei a chorar, gritar, raiva, dor. Meu olho encharcado e vermelho parou e não quis entender... Meu amor nunca me disse: ”Eu  amo você”.

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